Episódio 13 – Comportamento desviante - Howard Becker/ Música: Não vou me adaptar
Abordamos, no episódio 12, o conceito de comportamento desviante do sociólogo Howard Becker. De modo simples, podemos entender o conceito da seguinte forma: existe um tipo ideal de comportamento para a pessoa, dependendo do lugar que ela está. Imagine uma linha branca no chão. A pessoa deve seguir por essa linha sem se desviar, ou seja, adotar exatamente o comportamento que se considera adequado para ela. Observamos que algumas pessoas não seguem essa mesma linha, se desviando e, portanto, adotando um comportamento diferente do que era esperado. Para aqueles que estabeleceram as regras, ou para quem pintou a linha branca no chão, aquele que se desviou desse caminho está errado.
É preciso entender que, em cada situação, existem regras implícitas que indicam o que é o normal para aquele contexto. A mesma atitude pode ser aceita em um ambiente e em outro não. Por exemplo: é aceitável que, quando estiver jogando futebol, a pessoa grite para chamar a atenção de seu colega, mas se estiver na sala de aula, gritar para chamar a atenção seria considerado errado. Se a pessoa se encontrar com seus amigos e amigas em uma praça, é normal que fale alto e dê risadas, porém, se estiver com essas mesmas pessoas em uma cerimônia de enterro, por exemplo, esse comportamento seria completamente inadequado. Outro exemplo: se estiver à beira da praia, é considerado normal passear pelo calçadão de biquíni, mas se estivermos em uma cidade longe da praia, seria um comportamento considerado impróprio. Os exemplos são bem simples, mas dão uma ideia de como os comportamentos podem ser aceitos ou rejeitados dependendo do contexto em que ele está inserido. Sugiro que discuta com seus colegas outros exemplos que indiquem isso. Além disso, podemos pensar em um horizonte mais amplo onde há costumes que seguem a cultura de um país, e que, para outro país seria impróprio. Um exemplo disso: em algumas regiões de países asiáticos é normal se alimentar de carne de cachorro ou gatos. Já no mundo ocidental, esse comportamento seria anormal e inaceitável.
De qualquer forma, o que queremos chamar a atenção é que, certo e errado, normal e anormal, dependem dos padrões culturais, tradicionais e sociais estabelecidos ao longo da formação de um povo ou estado.
Há também a possibilidade de algo ser considerado desviante, mas depois de algum tempo se tornar um novo ‘normal’ e aceito como certo. Isso porque as relações dentro de uma sociedade são dinâmicas e estão em constante mudanças. Exemplo disso: quando surgiu o rock nos EUA, esse estilo musical não foi aceito entre as camadas mais conservadoras da sociedade. O rock era visto como algo subversivo e nocivo aos valores da época. Ou seja, o rock era um estilo musical desviante. Com o passar dos anos e décadas, o rock é aceito como normal e perde seu caráter desviante.
Compreendendo melhor essa ideia de comportamento desviante, no episódio 12, fizemos uma associação com a canção ‘Não vou me adaptar’ da banda Titas, interpretando-a como uma atitude desviante. Como se pudéssemos olhar para a realidade do nosso país, e percebermos que há tanta coisa errada e que não concordamos, mas que parecem ser aceitas como ‘normal’. Alguém ainda se surpreende com notícias de assassinatos, estupros, roubos, miséria, abandono, fome.. etc? Parece que aceitamos como ‘normal’ tantas injustiças vividas diariamente pelas pessoas. Alguém ainda se surpreende com a corrupção nos órgãos públicos? Parece tão ‘normal’.
A ideia de ser desviante ou não se adaptar, que propomos no episódio, tem a ver com uma forma de resistência: eu não posso fazer parte de algo que não concordo só porque parece ‘normal’ aos olhos de todos. Será que isso é justo? Mais que isso, cadê a nossa capacidade de indignação diante do mal? Porque aceitamos o mal como ‘normal’.
Diz aí, quais as situações em que você se recusa a ‘se adaptar’?